quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Lei do aborto: pecado é não fazer nada

Estávamos hoje discutindo no Twitter sobre um texto do jornalista Ricardo Noblat sobre a lei do aborto. Não vou entrar nessa discussão religiosa sobre o tema, pois, quando falamos sobre a morte de 2 milhões de mulheres, discutir teologia e moralismo é estupidez. No Brasil costuma-se concentrar o foco na discussão política, pois, para eles ela é a batalha que vale e o ser humano passa para segundo plano quando deveria ficar em primeiro.

No caso da AIDS, por exemplo, as ocorrências reduziram drasticamente após as campanhas de conscientização, quando ainda não havia medicamentos que permitissem a sobrevida dos pacientes aidéticos. Duvido que alguma religião impeça ou se posicione contra a iniciativa de uma campanha esclarecedora sobre os riscos do aborto feito em clínicas ilegais, sem o apelo religioso ou moralista que nesse caso prático serve apenas como complicador.

Em relação às verbas para campanhas publicitárias, apenas para termos uma ideia dos montantes normalmente gastos, reproduzo abaixo parte da matéria "Não existe comprometimento com a Nação" do Jornal Tribuna União:
"Em 2009, segundo dados da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Governo Federal gastou em campanhas publicitárias R$ 1.67 bilhão. O Governo do Estado de São Paulo gastou, em 2010, R$ 266,6 milhões. A Prefeitura São Paulo, R$ 110 milhões. O Estado de Alagoas, pequeno e pobre, gasta em média, para promover a sua administração, R$ 3.000 milhões mês."
Todos concordam que cada vida salva é importante e nesse caso em que morreram 2 milhões de mulheres em 110 meses (200 mil por ano), 1% delas conscientizadas representaria 2000 vidas salvas por ano.

Acho que os políticos que se opõe à lei de legalização do aborto, seja por questões morais ou religiosas, deveriam aproveitar este ponto de convergência e criar lei que obrigasse o governo a destinar parte das verbas da saúde e da comunicação social para uma campanha nacional de conscientização sobre os riscos do aborto clandestino, ao invés de usar o nosso dinheiro para propagandas eleitoreiras. Com lei do aborto aprovada ou não, pode-se fazer MUITA coisa ao invés de ficar discutindo o sexo dos anjos enquanto milhares de seres humanos morrem por ano por falta, principalmente, de esclarecimentos. Partir para o lado prático como se fez com a AIDS ao invés de ficar brigando e fazendo beicinho.

Importa mesmo o que pode ser feito IMEDIATAMENTE para salvar vidas, sem discussões improdutivas. Ou será que esses cristãos, paradoxalmente ao que leem e pregam em suas religiões, são a favor de se condenar e apedrejar essas que eles consideram as "Madalenas" do século XXI?

E termino este post com o famoso trecho da "Meditation XVII" de John Donne:
"Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. "

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