sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Mágoa II, o retorno

Tenho um post no blog que se chama "Mágoa" e é o campeão absoluto de visualizações, com quase 1100 visitações provenientes de diversas fontes, sendo a principal delas do Google Busca (70%), onde esse meu post apareceu após digitação da palavra-chave "mágoa", sozinha ou acompanhada de outra. Isto me faz postar este novo texto para reciclar o primeiro e incluir algumas observações que não foram feitas.

Imagino que existam dois tipos de pessoas que buscam textos na internet para essa palavra: quem magoou e quem se sente magoado(a). É sempre bom lembrar que essas duas situações se confundem, pois, dificilmente apenas um lado se sente magoado nas situações de confronto, seja ele de idéias ou de interesses. Resta então o sentimento em si que, independentemente de culpas, provoca profundos estragos emocionais e físicos (doenças).

Dentre as inúmeras frases que existem de filósofos e poetas sobre o tema "mágoa", duas delas nos fazem refletir em relação ao sentimento e à lição. São elas:
"A mágoa altera as estações e as horas de repouso, fazendo da noite dia e do dia noite." (William Sakespeare) 
"Só a mágoa deveria ser a instrutora dos sábios; tristeza é saber." (Lord Byron)
A de Shakespeare (Ricardo III) reflete a dor profunda da mágoa, que nos causa insônia num turbilhão de pensamentos divididos entre arrependimentos e justificativas. A de Lord Byron (Manfredo) tenta ressaltar a importância do aprendizado e do crescimento após termos encarado de frente e refletido mais calmamente sobre as razões dessa mágoa.

Não pretendo reinventar a roda e por isto vou me limitar a postar um poema de Drummond que diz tudo e mais um pouco. Aproveite e reflita... veja se vale a pena sofrer com mágoas enquanto a vida, indiferente às culpas e arrependimentos de cada um, continua firme no seu caminhar tanto nos relógios que marcam horas, minutos e segundos, quanto nos dias, meses e anos dos calendários de todos nós.


Definitivo - Carlos Drummond de Andrade

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade



Leia também:

  1. Nossos humores
  2. Mágoa


-o-

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