sábado, 16 de abril de 2011

A frieza, a insensatez e a maldade política

Todos que me acompanham há dois anos, tanto no Twitter quanto no blog Pura Reflexão, sabem que eu sempre me manifestei a favor da liberdade de imprensa. Tenho conceitos bem objetivos em relação à programação dos veículos de comunicação e entendo que ela envolve cultura, jornalismo, utilidade pública e propaganda como principais conteúdos. A proporção entre esse conteúdos varia conforme o veículo e os interesses. Não existem santinhos nessa história, assim como não existem santinhos em qualquer atividade que envolva dinheiro e poder. Todos querem garantir a sua parte e tanto a palavra "ética" quanto ao termo "bom senso" não possuem definições padronizadas, aceitas pela maioria da sociedade.

Em resumo, considerando a subjetividade de todas as variáveis que definem a ética, cabe a nós separar o joio do trigo, definindo os positivos e negativos de cada fato, isoladamente e sem preconceitos. É muito comum a sociedade rotular veículos de comunicação da mesma forma como faz com políticos, empresários e até com pessoas do seu próprio convívio. Lógico... é mais fácil e rápido rotular para aceitar ou rejeitar sem ter que pensar e refletir, ou pior, para justificar manter-se dentro das suas verdades e do seu fanatismo inconsequente. A maneira mais fácil de perceber essa essa tendenciosidade é observarmos nossos comportamentos diante das notícias positivas sobre pessoas que nos agradam e das notícias negativas das que NÃO nos agradam. Acreditamos nas duas, sem questioná-las. Mas quando falam mal daqueles que queremos bem e bem dos que não gostamos ou vão contra os nossos interesses pessoais, pronto... ferrou tudo! Maldita imprensa caluniosa e parcial (só ela, né?)!

Eu mesmo estou cansado de escrever aqui e me manifestar no Twitter sobre a exploração gratuita da miséria humana pela imprensa. Chamo de exploração gratuita aquela que aponta os holofotes para a dor e não para o que ajudará a sociedade e o governo a resolverem o problema. Essa história de que a comoção pressiona as autoridades é o maior papo furado... desculpa esfarrapada do veículo quem coloca o dinheiro da audiência fácil acima da dignidade humana e da missão social da imprensa. Pressionar o governo para agir contra homicídios e tráfico de drogas é uma coisa, mas colocar mães desesperadas chorando em 90% do noticiário depois do ataque de um psicótico sem falar em segurança nas escolas e sem orientar o público a reconhecer desequilibrados patológicos, é exploração baixa e maldosa mesmo! Não tem desculpa. É "sadojornalismo" sórdido, irresponsável e ponto final!

Depois dessa longa, mas necessária introdução, vamos ao ponto central e nevrálgico do tema: A FRIEZA, A INSENSATEZ E A MALDADE POLÍTICA.

Embora a imprensa apresente essas características editoriais que variam de veículo para veículo, existe uma coisa que se chama FATO. Corrupção, assalto ao erário, descaso com a saúde, com a segurança, educação entre outros são FATOS... questionáveis ou não, não deixam de ser FATOS. E me prendo unicamente a FATOS para falar sobre as comemorações que assistimos antes-de-ontem após a vitória ESMAGADORA do governo na aprovação dos 20 bilhões do Tesouro para o BNDES financiar o Trem-Bala para São Paulo. Risos, tapinhas nas costas e confraternização entre os partidos de apoio ao governo e, pasmem, entre eles o PCdoB, mesmo diante de uma tentativa frustrada do senador Inácio Arruda de amenizar a incoerência ideológica de seu partido. É o paradoxo da social-burguesia-comuno-capitalista, bem similar à que acabou com o comunismo do Politburo oligárquico da União Soviética e derrubou o muro de Berlim, importada pelas chorosas viúvas brasileiras de Prestes.

Um dia depois (ontem), o Jornal Nacional mostrou o descaso e o caos do sistema público de saúde do estado de Alagoas (veja a matéria), coincidentemente no nordeste do senhor Inácio Arruda e de outros que aprovaram a verba bilionária para o trem bala de São Paulo. Guardando-se as devidas proporções em relação às forças governamentais de cada um dos estados brasileiros, se o "JN no Ar" tivesse jogado uma pedrinha no mapa do Brasil e escolhido fazer sua reportagem onde ela caísse, fosse em São Paulo, Rio, São Luís do Maranhão ou em qualquer outra cidade brasileira, a matéria seria chocante do mesmo jeito, variando apenas as nuances dramáticas e as quantidades das desgraças, mas não no pouco caso do governo com a saúde pública.

Não vou nem entrar nos detalhes das falhas e da viabilidade técnica do projeto do Trem-Bala brasileiro e dos outros que existem no mundo, pois, as fontes na internet sobre isso são inúmeras como o site brasilalemanhanews comentando sobre a avaliação negativa do próprio senado, antes de sua aprovação. Também não vou falar sobre o BNDES que virou banco comum, dando preferência para empréstimos bilionários a países e projetos especiais, restando para o empresário brasileiro apenas um mísero cartão de crédito e uma burocracia sem fim.

O problema não está no Trem-Bala em si, mas na reflexão sobre as seguintes perguntas:
  1. Quantos casos semelhantes ao Trem-Bala estão sendo aprovados pelo Congresso dentro dessa mesma (i)lógica política em detrimento da saúde, da previdência, da segurança e da educação? 
  2.  
  3. A MAIORIA ESMAGADORA do governo está esmagando o que mais, além das oposições (de fato e as do próprio governo) e nossas esperanças de um país mais justo e humano?
Como na frase do filósofo indiano Rabindranath Tagore: "Agradeço não ser uma das rodas do poder, mas sim uma das criaturas que são esmagadas por elas."

Parabéns à MAIORIA ESMAGADORA e aos líderes dos partidos de apoio ao governo. Essa fidelidade lhes dará agora  frutos viçosos e maduros às custas dessa podridão que hoje os aduba. Mas o tempo passa e com ele o poder. Noites mal dormidas ainda virão. Praga? Não... causa e efeito.
 
 

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