sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Afasta de mim esse "Cale-se"

Pediu-se muito ao Pai a liberdade. Ele atendeu, mas mandou de quebra o livre-arbítrio. Se Ele não fosse perfeito, eu diria que se enganou ao dar a liberdade com a mão esquerda e o livre-arbítio com a direita. Ganhamos a almejada liberdade e a inesperada prisão pela incompetência de administrá-la sob influência do ego, dos interesses e da memória.

Libertou também a arte, mas deixou alguns artistas de olhos fechados em seus cantos sem paredes, mas ainda sombrios e úmidos mesmo com a luz do sol.

Mãe, nos perdoe! Quando você disse: "Peça primeiro para seu Pai", nós fomos, mas nos esquecemos de voltar. Estamos aqui de novo e agora chegou a vez de pedirmos a você e por você. Nossa triste e abandonada Mãe Pátria.

Caros Chico e Gil. Peço que sejam empáticos comigo e não censurem esta paródia. Normalmente paródias são sátiras engraçadas, mas esta é tão séria quanto o silêncio de vocês, hoje acabrunhados em seus cantos abertos num "cale-se" visivelmente seletivo.

"Se tivesses ficado calado, terias continuado filósofo"  Boécio (Consolação da Filosofia)
"Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado"  Millôr Fernandes (Confúcio Disse)


CÁLICE - CHICO BUARQUE

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MÃE, AFASTA DE MIM ESSE ETERNO "CALE-SE"

Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Do puro instinto estanque... (2x)

Como ceder
À decisão amarga
Parar a dor
E resistir à luta
Mesmo parada a boca
Resta o feito
Silêncio da idade
Se refuta.
De que me vale
Ser filho da terra
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos torta
Tanta mentira
Na corte impoluta...

Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Do puro instinto estanque.

Como é difícil
Despertar calado
Se quando sonho à noite
Eu me engano
Quero tirar
O manto desumano
Que encobre a mente
Do desavisado.
Esse silêncio todo
Me enjoa
E enjoado
Meu agir é lento
Nessa platéia
Sem nenhum alento
Que espera muda
O grito que destoa...

Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Do puro instinto estanque.

De muito fraca
A vara já não verga
(Cale-se!)
De nada serve
Uma balança morta
Como é difícil
Mãe, pesar um peso
(Cale-se!)
Num prato raso
Que não mais comporta.
Com um poder
Histérico e fecundo
De que adianta
Ter a liberdade
Mesmo aberto o peito
Fecha a cuca
Desses viúvos
Da moralidade.

Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Mãe! Afasta de mim esse "cale-se"
Do puro instinto estanque.

Talvez o imundo
Não seja pequeno
(Cale-se!)
Nem seja a morte
Um fato consumado
(Cale-se!)
Quero ousar
Embora machucado
(Cale-se!)
Quero morrer
Pelo que condeno.
(Cale-se!)
Quero perder de vez
Minha cabeça
(Cale-se!)
Tua cabeça
Ganhar teu juízo
(Cale-se!)
Cheirar a terra
Sem cair na lama
(Cale-se!)
Te embriagar
Sem que a razão pereça.
(Cale-se!)
















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2 comentários:

  1. Parabéns, adorei a letra da música!!!!!

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  2. Maravilhoso, Zé Claudio. Essa versão moderna do Cálice deveria ser divulgada. Naquela época foi um grito, uma denúncia...e não vejo porque não continuá-la agora.Os motivos, mesmo difarçados de outros rostos, ainda continuam os mesmos. Parabéns, é uma obra-prima!
    Beijos
    MLúcia

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